Anton Tchékhov - O Tio Vânia
Edição Campo das Letras de 2006
Tradução do Russo de António Pescada

A peça O Tio Vânia foi escrita entre 1896 e 1897, logo a seguir a A Gaivota e ainda antes desta estrear. Foi representada pela primeira vez no Teatro de Arte de Moscovo, em Outubro de 1899. Também a este caso se aplica o que escreveu Elsa Triolet em A Vida de Tchékhov: “As grandes peças de Tchékhov transgrediam todas as regras da dramaturgia do seu tempo; introduziam na cena a vida quotidiana, as pessoas simples, a linguagem de todos os dias; obrigavam o encenador e os intérpretes a abandonar o que o teatro tinha de teatral, as suas convenções habituais. O diálogo de Tchékhov possui uma particularidade a que é uso chamar-se o seu ‘antetexto’, espécie de corrente submarina que passa, silenciosa, por detrás das palavras pronunciadas em voz alta.”

A peça centra-se nos conflitos românticos e artísticos de quatro personagens: a ingénua Nina, a outrora gloriosa atriz Irina Arkadina, o dramaturgo experimental Konstantin Trepliov, filho de Irina, e o famoso escritor Trigorin. Por sua vez, a acção decorre na propriedade Serebriakov, onde o professor reformado Serebriakov e a bela Elena, a sua segunda mulher, acabam de chegar para residir. Antes disso, não havia nada na propriedade para além do trabalho árduo de Sonia e do tio Vanya, na companhia da mãe e de Telegin. Todo este trabalho tinha como objetivo permitir que Serebriakov ganhasse um rendimento decente.

O drama de Anton Tchékhov deve ser situado num momento de mudanças transcendentais, que na Rússia representam a transição de uma sociedade rural para uma sociedade urbana, na qual se faz sentir o ímpeto do capitalismo e dos processos de industrialização. As suas personagens habitam mundos que estão em colapso e, como consequência, sofrem conflitos internos dolorosos quando a realidade em que vivem destrói gradualmente as expectativas que moldam o seu mundo interior