Georges Simenon - Maigret e o Crime na Comporta
Edição Livros do Brasil de 1986
Tradução de Paulo de Mello Barreto

Quando observamos peixes através de uma camada de água que proíbe qualquer contacto entre eles e nós, vemo-los permanecer imóveis longamente sem motivo, para depois, com um tremor nas barbatanas, avançarem um pouco para não fazer nada além de esperar novamente .

Foi com a mesma calma, como que sem razão, que o eléctrico 13, o último “Bastilha-Créteil”, percorreu com as suas luzes amareladas todo o Quai des Carrières. Na esquina de uma rua, perto de um bocal de gás verde, ele fingiu parar, mas o condutor tocou a campainha e o elétrico correu em direção a Charenton.

Atrás dele, o cais permanecia vazio e estagnado como uma paisagem marítima. À direita, barcaças flutuavam no canal, com a lua ao redor. Um fio de água escorregou por uma válvula mal fechada na eclusa, e era o único som sob o céu, ainda mais silencioso e profundo que um lago.