Particular
Tipo: Crónicas
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Descrição
JORNAL DO ACASO –
Simões de Castro
Edição: Magalhães e Moniz Lda.- Editores
1ª Edição – 1913
Páginas: 190
Dimensões: 190x120 mm
Peso: 145
Exemplar em muito estado, sem rasgos, anotações ou sublinhados
PREÇO: 22.00€
PORTES DE ENVIO PARA PORTUGAL INCLUÍDOS, em Correio Normal/Editorial, válido enquanto esta modalidade for acessível a particulares.
Envio em Correio Registado acresce a taxa em vigor.
O ENTRUDO
Todos os annos, sob a determinação imperiosa da folhinha, a humanidade, apossa- da d'uma estranha bebedeira collectiva, perde o seu serio, sarapinta-se de vermelhão, põe nariz postiço, pinoteia - e faz o carnaval.
O carnaval não é, pois, a explosão natural d'uma alegria latente, manifestando-se num regabofe sadio de communicativa alacridade. E' a praxe, o habito, quasi o dever.
Três dias fixa o calendário para a sarabanda entrudesca. Durante três dias, portanto, cumpre afivelar a mascara d'uma alegria que se não sente, contrahir o rosto num riso que não é mais do que um esgarlamentável, saltar, pular, pinchar, numa vibração de nervos que é apenas uma modalidade da dança de S. Vito.
Tenho observado dezenas de creaturas que se divertem na época da pagodeira carnavalesca e jamais topei uma única que revelasse intima e saudável alegria. Encontrei apenas borrachos ou imbecis.
Entre nós, sobretudo, neste paíz nostálgico de cantadores de fado, não há, positivamente, a solida alegria que poderia justificar a patuscada entrudesca. O portuguez só ri quando se embebeda para esquecer. Eis porque, em Portugal, o entrudo não é mais do que uma orgia de borrachos.
O portuguez não tem espirito, não tem vivacidade, não sabe brincar. A nossa alegria é pesada, grosseira, sorumbática. Molesta e enerva. Divertir, para nós, é synonymo de tripudiar.
Vêde, para exemplo, os nossos bailes de carnaval, que descambam sempre numa bambochata nojenta de marafonas e bebedolas.
O carnaval, entre nós, está synthetisado nas chalaças do Coelho e na empanturradela tradicional de feijão e cabeça de porco. As tentativas dos Fenianos e dos Girondinos falharam e falharam precisamente porque o nosso povo não poderia jámais conceber um carnaval sem o clássico nabo de S. Cosme, um entrudo que, em vez de ser um pretexto para a chalaça grosseira, tivesse a caracterizá-lo um certo cunho de espirito e de civilização.
Para nós, o carnaval é a borga. Fechem as tabernas, supprimam os bailes - e o carnaval morrerá.
Simões de Castro
Edição: Magalhães e Moniz Lda.- Editores
1ª Edição – 1913
Páginas: 190
Dimensões: 190x120 mm
Peso: 145
Exemplar em muito estado, sem rasgos, anotações ou sublinhados
PREÇO: 22.00€
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Envio em Correio Registado acresce a taxa em vigor.
O ENTRUDO
Todos os annos, sob a determinação imperiosa da folhinha, a humanidade, apossa- da d'uma estranha bebedeira collectiva, perde o seu serio, sarapinta-se de vermelhão, põe nariz postiço, pinoteia - e faz o carnaval.
O carnaval não é, pois, a explosão natural d'uma alegria latente, manifestando-se num regabofe sadio de communicativa alacridade. E' a praxe, o habito, quasi o dever.
Três dias fixa o calendário para a sarabanda entrudesca. Durante três dias, portanto, cumpre afivelar a mascara d'uma alegria que se não sente, contrahir o rosto num riso que não é mais do que um esgarlamentável, saltar, pular, pinchar, numa vibração de nervos que é apenas uma modalidade da dança de S. Vito.
Tenho observado dezenas de creaturas que se divertem na época da pagodeira carnavalesca e jamais topei uma única que revelasse intima e saudável alegria. Encontrei apenas borrachos ou imbecis.
Entre nós, sobretudo, neste paíz nostálgico de cantadores de fado, não há, positivamente, a solida alegria que poderia justificar a patuscada entrudesca. O portuguez só ri quando se embebeda para esquecer. Eis porque, em Portugal, o entrudo não é mais do que uma orgia de borrachos.
O portuguez não tem espirito, não tem vivacidade, não sabe brincar. A nossa alegria é pesada, grosseira, sorumbática. Molesta e enerva. Divertir, para nós, é synonymo de tripudiar.
Vêde, para exemplo, os nossos bailes de carnaval, que descambam sempre numa bambochata nojenta de marafonas e bebedolas.
O carnaval, entre nós, está synthetisado nas chalaças do Coelho e na empanturradela tradicional de feijão e cabeça de porco. As tentativas dos Fenianos e dos Girondinos falharam e falharam precisamente porque o nosso povo não poderia jámais conceber um carnaval sem o clássico nabo de S. Cosme, um entrudo que, em vez de ser um pretexto para a chalaça grosseira, tivesse a caracterizá-lo um certo cunho de espirito e de civilização.
Para nós, o carnaval é a borga. Fechem as tabernas, supprimam os bailes - e o carnaval morrerá.
ID: 658934700
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Publicado 01 de maio de 2025
JORNAL DO ACASO – Simões de Castro
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