Mensagens
Anunciar e Vender
  1. Página principal
  2. Lazer
  3. Livros - Revistas
  4. Literatura Portuguesa
  5. Literatura Portuguesa - Lisboa
  6. Literatura Portuguesa - Parque das Nações
Livro Retratos da vida aldeana Paulo Leitão Batista
Livro Retratos da vida aldeana Paulo Leitão Batista
Livro Retratos da vida aldeana Paulo Leitão Batista
Livro Retratos da vida aldeana Paulo Leitão Batista
DestacarPara o topo
  • Particular

Descrição

Livro: Retratos da Vida Aldeana
Autor: Paulo Leitão Batista
Editora: Edição de autor
1999
Peso: 150 g
Pela meada de Janeiro, o Tonho Ladeiro matou o marrano. Bem cevado estava o animal, pela tanta bolota, botelhas e maças das caídas que emborcara. Lá nisto, no trato do bácaro, tinha a sua Marisabel grande brio. Botava-lhe vianda ao amanhecer e à noite e fazia-lhe a cama uma vez ao dia. Queria-o ver limpo e cevadinho. Retinha-o, à cautela, bem trancado, fora de visitas, não fosse alguém botar-lhe o mau olhado, embora a sabedoria popular considere o porco como isento de tal acometimento. Só quando o capador da Nave por ali passou, como ocorria todos os anos em Outubro, a mulher permitiu que se trouxesse para a rua, por mor da clareza. - Isso é que é porco, mulher! – disse-lhe o capador - é a animais bem cevadinhos, como este, que eu gosto de sacar as partes. - Ora, veja lá, senhor Varandas! Não lhe deixe aleijão. - Não corre perigo! Estamos em quarto minguante, nestes dias as capaduras não incham. No dia da matança o cochino mandava-se para as nove arrobas. Embora atarracado, de pernas curtas, era comprido e encorpado, com valentes presuntos, que mal lhe deixavam notar as jogas. Logo pela manhã, ao nascer do sol, lhe chegaram a casa o João Bilé mais a Teresa e os catraios, que eram primos do Tonho e que todos os anos se ajudavam nas matanças. Veio também a Rosa do Lucas, mulher batida no apular do sangue e na alipança das tripas. E não faltou o Manel Mourão, para o qual não havia pai na arte de espetar a faquita no pescoço do marrano, em direituras do coração. Mataram o bicho, rilharam uma côdea, e ala, que o serviço espera. O Tonho Ladeiro enfiou-se no cortelho, de laço na mão, disposto a atar o animal para o conduzirem ao curral. Cirandou, cirandou pelo chiqueiro, reco, reco, a coçar o lombo do cochino, mas sem ser capaz de lhe botar a corda à pata, como era de regra. - Bota-lha ao cachaço Tonho, que dá o mesmo – indicou-lhe o Mourão. E o Ladeiro meteu-lhe o laço às golas. Só que o bicho, ao sentir coisa estranha a apertar-lhe, mandou um pulo em direcção ao cancelo, e lançou-se em fuga. O homem que tinha atado a ponta da corda ao pulso, caiu no esterco e foi arrastado, até que os outros se lançaram ao porco e o fizeram especar. - Que força tem o marrano! Vai custar a segurar. O Ladeiro levantou-se de camisa branca ajavardada e de cara embostada. - Ui home! Cheiras mal ca’pestas! Vai mudar ao menos de camisa - aconselhou-o o Bilé. - Qual quê? Primeiro o servicinho! Todos à vez agarraram o animal e quedaram-no em riba do banco. O Mourão lavou então a faca na água de um caldeiro e beijou-lhe a lâmina em apurado ritual. Vamos ver se bota boa sangria. Até agora, desde que mato e limpo, nunca me deixei ficar mal. Aplicou-lhe a faca ao fundo do gasnete, depois de apalpar e tomar o ponto certo, e fê-la penetrar. O porco grunhiu ao sentir o aço. Esperneou, mas foi mantido quedo pelos que o seguravam. A Rosa do Lucas apulou o jarro de sangue para uma selha, onde previamente deitou uma mão-cheia de sal, remexendo-o com uma colher de pau, não fosse coalhar. Depois de dar as últimas, chamuscaram-lhe o cabelo com alumieiras de palha centeia e lavaram-no com abundância de água, esfregando-lhe pedras no lombo. Acto contínuo, sacaram das naifas, afiadas a preceito nas agucinas das gadanhas, e iniciaram o barbear do porco, livrando-o dos cabelos que haviam escapado ao fogo e das sujidades não removidas pelo esfregar das pedras. Após limpo de ambos os lados, meteram-lhe o chambaril nos jarretes das patas traseiras, pegaram-lhe todos à vez e alombaram-no para a palheira, onde o dependuraram numa trave. Aberto o animal, admirado por todos, deixou-se ficar coberto pelo soventre estendido sobre as banhas que se haviam arrancado. Depois foi a comezaina, em que todos se atiraram à farta mesa, composta das melhores iguarias, muitas ainda da matança anterior. Esta era jornada familiar e ponto de encontro entre amigos muito chegados, seguindo um ritual antigo de ajuda mútua e tempero do fole, que poucas vezes ao ano se enchia com tantos e tão bons paladares.
Gastronomia / Culinária / Matança do porco / Tradições populares
Eu Ando A Ler
Contacte-nos, responda ao anúncio.
Entregas em mão em Lisboa, Póvoa de Sta Iria, Montijo ou
envio editorial CTT em embalagem cuidada.
(custos com o envio a cargo do comprador).
Aceitamos pagamento por transferência bancária, depósito, PayPal, MBWAY ou vale postal.
Não realizamos envios à cobrança.
ID: 650786770

Contactar anunciante

Eu Ando A Ler

No OLX desde fevereiro de 2010

Esteve online hoje às 14:56

xxx xxx xxx

Publicado 28 de abril de 2024

Livro Retratos da vida aldeana Paulo Leitão Batista

25 €

Utilizador

Localização

Faz download da app:

Parceiros OLX:

Prémios:

  • escolhaconsumidor
  • selo