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Descrição
Marius von Mayenburg - Cara de Fogo
Edição Cotovia de 2001
Tradução de Vera San Payo de Lemos
“Os homens são matéria facilmente inflamável.” Em Cara de Fogo, Marius von Mayenburg parte deste singelo princípio para construir, na sua linguagem de palavra rara e densa, a mais estranha de todas as personagens – aquela onde confluem todas as formas de piromania. Incesto, parricídio, a vertigem do fogo, um labirinto caótico onde cabe todo o presente e entre cujas linhas o dramaturgo não desiste de encontrar um sentido.
Os homens são matéria facilmente inflamável, escreveu ele sobre um pedaço de papel, e os médicos perguntam-lhe o que significa isso. É preciso que tudo arda. É preciso que tudo arda, sempre, em qualquer estação. Mas quando chega o Natal e as pessoas instalam árvores nas suas salas e lhes penduram enfeites, então é pior: um incêndio florestal em cada apartamento e em cada armazém, chamas contorcem-se por todos os lados e ele não sabe para onde desviar os olhos. Depois, há inícios de incêndios pela cidade, por todo o lado e todos os dias, às vezes dois por dia. Ele lê o jornal e quando, uma vez por outra, num qualquer país estrangeiro, uma casa arde completamente ou uma floresta se incendeia, ou um camião-cisterna se pulveriza em nuvens de fogo no meio das detonações, ele diz tranquilamente: eu faria melhor. Os seus cabelos estão queimados até ao crânio, a sua cara é uma cicatriz viva, há pedaços mortos na sua boca, quando come, a sua língua está calcinada, ele bebe álcool combustível e diz: eu sou o cuspidor de fogo, eu sou o primeiro homem, eu trago-vos o fogo.
Marius von Mayenburg
Edição Cotovia de 2001
Tradução de Vera San Payo de Lemos
“Os homens são matéria facilmente inflamável.” Em Cara de Fogo, Marius von Mayenburg parte deste singelo princípio para construir, na sua linguagem de palavra rara e densa, a mais estranha de todas as personagens – aquela onde confluem todas as formas de piromania. Incesto, parricídio, a vertigem do fogo, um labirinto caótico onde cabe todo o presente e entre cujas linhas o dramaturgo não desiste de encontrar um sentido.
Os homens são matéria facilmente inflamável, escreveu ele sobre um pedaço de papel, e os médicos perguntam-lhe o que significa isso. É preciso que tudo arda. É preciso que tudo arda, sempre, em qualquer estação. Mas quando chega o Natal e as pessoas instalam árvores nas suas salas e lhes penduram enfeites, então é pior: um incêndio florestal em cada apartamento e em cada armazém, chamas contorcem-se por todos os lados e ele não sabe para onde desviar os olhos. Depois, há inícios de incêndios pela cidade, por todo o lado e todos os dias, às vezes dois por dia. Ele lê o jornal e quando, uma vez por outra, num qualquer país estrangeiro, uma casa arde completamente ou uma floresta se incendeia, ou um camião-cisterna se pulveriza em nuvens de fogo no meio das detonações, ele diz tranquilamente: eu faria melhor. Os seus cabelos estão queimados até ao crânio, a sua cara é uma cicatriz viva, há pedaços mortos na sua boca, quando come, a sua língua está calcinada, ele bebe álcool combustível e diz: eu sou o cuspidor de fogo, eu sou o primeiro homem, eu trago-vos o fogo.
Marius von Mayenburg
ID: 635944140
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Publicado 21 de abril de 2024
Marius von Mayenburg - Cara de Fogo
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