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O Crime de Camarate-Ricardo Sá Fernandes
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  • Particular

  • Tipo: Testemunhos

Descrição

Muito bom estado. Bertrand Editiora.1KG
Ler "O Crime de Camarate" é uma prova de resistência, mas depois de ler as seiscentas páginas do livro de Ricardo Sá Fernandes percebe-se melhor o país em que se vive. Só não se fica mais feliz.
Depois de ler "O Crime de Camarate", põe-se-me uma questão, uma mera questão intelectual, incontornável, como agora é moda dizer, depois do contacto com a assustadora realidade contida nas mais de 600 páginas do livro do advogado Ricardo Sá Fernandes: é possível sentar num tribunal e julgar dois ex-procuradores-gerais da República e outros responsáveis do Ministério Público, alguns responsáveis antigos e actuais da Polícia Judiciária, e ainda uma série de juízes? Não me parece, eles são a lei, julgar a lei é pô-la em causa e pô-la em causa é abalar os alicerces do regime... Mas, sem ser num tribunal, onde é que se pode questionar e responsabilizar seriamente quem, durante 20 anos, fechou os olhos a tudo o que pusesse em causa a tese oficial, segundo a qual o Cessna que transportava Sá Carneiro e Amaro da Costa caíra por acidente?Não sendo, portanto, possível, julgar o sistema, a leitura deste livro torna-se, em certa medida, um incómodo pois, uma vez terminada, resta a indignação e um sentimento de impotência. Ah, e também o cansaço, porque "O Crime de Camarate" cansa muito, pela atenção e disponibilidade mental que exige: a história é uma enumeração de factos, sempre apoiados em documentos, são páginas e páginas de relatórios, de actas e acórdãos, de peritagens, de opiniões técnicas, e a vantagem de tudo isso é permitir sempre ao leitor fazer o seu juízo sobre o que se passou. Ricardo Sá Fernandes não faz, de resto, nenhuma concessão à facilidade, começa até o livro pela parte mais rebarbativa da história: a desmontagem, em termos técnicos, da tese oficial, formulada logo a seguir aos acontecimentos.O leitor, ao longo dos testemunhos sucessivos, pode comparar imprecisões, contradições, ambiguidades, e chega à mesma conclusão do autor: o avião não podia ter caído por falta de gasolina, nem por perda de potência do motor esquerdo, nem por incúria do piloto, nem incorrecta distribuição da carga. E depois, na segunda parte, é confrontado com a apresentação, igualmente exaustiva, das provas entretanto surgidas de que houve um crime.De leitura mais fácil é a terceira parte do livro, em que Ricardo Sá Fernandes explica que houve ocultação do crime. Não o faz por palavras suas, mas apresentando depoimentos de responsáveis políticos da época, de testemunhos apresentados nas comissões parlamentares de inquérito, de notícias de jornais, levando outra vez o leitor a ajuizar por si sobre os factos que lhe vão sendo apresentados.Para quem acredita no sistema, este livro é chocante: quem pode ficar indiferente à forma incipiente como se procedeu às autópsias das vítimas, que só foram radiografadas - um exame elementar, lê-se em qualquer livro policial - depois de exumadas, a pedido dos seus familiares? Quem pode ler sem preocupação uma carta do director do Laboratório da Polícia Científica em 1997, à VI Comissão Parlamentar de Inquérito à Tragédia de Camarate, a desqualificar por completo o trabalho da instituição que dirige, depois de as analistas do referido laboratório terem detectado, nos restos do Cessna, materiais explosivos que indiciavam que neste rebentara uma bomba? Quem é que não se indigna quando vê o Ministério Público sempre preocupado em manter intocada a tese do acidente e sempre reticente em ouvir ou tomar conhecimento do que quer que fosse susceptível de trazer novas perspectivas sobre o caso? Aconteceu com José Cavalheiro, professor do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a quem, durante quatro anos, foi negado o acesso às radiografias das vítimas e, só ao fim desse tempo, pôde, mas no âmbito da VI Comissão Parlamentar de Inquérito, em presença desses exames, desenvolver a técnica que lhe permitiu identificar os fragmentos incrustados nos pés do piloto do Cessna.Quem fica na mesma quando lê que o Ministério Público, em 1995, deixou prescrever o caso contra José Esteves, referenciado desde a primeira hora como suspeito de ter fabricado a bomba no avião que transportava o primeiro-ministro português? E que, em relação ao outro suspeito, Lee Rodrigues, o caso só não prescreveu ainda porque este se encontra preso em França? Isto são alguns exemplos, entre centenas. O que Ricardo Sá Fernandes conta é uma história exemplar do sistema a proteger-se a si próprio. A princípio, atacar a tese do acidente, defendida pelo Ministério Público e pelos tribunais, podia ser uma ameaça à estabilidade política. Compreende-se, em certa medida, embora não se possa aceitar. Vinte e dois anos depois de Camarate, já não são de recear abalos no regime democrático, mas mantém-se o sigilo e agora é mais grave porque se percebe que a tese do crime ameaça alguém ou alguma coisa que o sistema está decidido a proteger.O sistema não se cansa na defesa dos seus interesses, quem se cansou foi o país de ouvir falar em Camarate. Por isso, o autor deste livro deu provas de grande resistência, em primeiro lugar resistência psicológica, ao cansaço generalizado que o tema provoca, e em segundo lugar de resistência física, porque "O Crime de Camarate" é um livro enorme, exaustivo, revelador de um acervo documental que não deve ter sido fácil de reunir.Mas lê-lo é também uma prova de resistência. Só que é aconselhável fazê-lo, porque, depois disso, percebe-se melhor o país em que se vive. Só não se fica mais feliz.
ID: 631341560

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José Silva

No OLX desde setembro de 2016

Esteve online dia 22 de abril de 2024

Publicado 17 de abril de 2024

O Crime de Camarate-Ricardo Sá Fernandes

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