O que nos distingue no espaço ibérico? Portugal, periferia irredutível, a sua sobrevivência no trânsito histórico, os portugueses e a sua diferenciação psicológica, os seus mitos, caracterizados num ensaio filosófico, cujos enunciados são hoje, mais do que nunca, exemplares. Neste ensaio, longamente meditado, o autor estabeleceu relações históricas, existenciais e etnológicas de que até recentemente a nossa filosofia tinha andado afastada. Simultaneamente procurou radicar em princípios e razões filosóficas uma historiografia que, dominante na nossa cultura, raras vezes tem conseguido transcender os acanhados limites da erudição e investigação documental. Cunha Leão soube, através desta sua obra, que vem sendo publicada, lida e reflectida desde 1960, estabelecer teses verdadeiramente inovadoras e inspiradoras do destino e da sobrevivência do português através da sua singular história. Obra sóbria, plena de conteúdo filosófico, enigma desvendado a vários pensadores, impõe-se por si mesma, nomeadamente no capí-tulo «20 teses acerca da formação e sobrevivência de Portugal», verdadeira sistematização da vivência portuguesa através do agir, do pensar e do amar, da aventura no mundo até à saudade, nesse mesmo mundo que ajudou a afeiçoar. Francisco da Cunha Leão, falecido em 1974, filósofo, poeta e editor, foi o fundador da «Colecção Filosofia & Ensaios».