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Os Hipogeus Pré-Históricos da quinta do Anjo  e as Economias
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presente publicação pretende ser uma síntese da numerosa informação que foi sendo acumulada, desde o século passado, sobre os hipogeus pré-históricos da Quinta do Anjo, e também uma reflexão sobre o enquadramento desta necrópole no contexto arqueológico da Arrábida, mormente no que respeita à sua relação com os sítios de habitat coevos que temos vindo a estudar. A revisão agora realizada enquadra-se no projecto de investigação arqueológica “Povoamento e Arqueologia da Paisagem durante a Pré- -história recente e a Proto-história no sector oriental da Arrábida”, da responsabilidade da autora e aprovado pelo IPA em 1998. Foi também nossa intenção, evitando embora uma abordagem ecléctica, deixar em aberto várias hipóteses de leitura e interpretação dos dados, dando preferência a um discurso interrogativo e facultando aos leitores os documentos em que nos baseámos. Com o imenso interesse que um “clássico” sempre desperta, na sua incessante abertura à reinterpretação e na sua resistência à descodificação por qualquer hermenêutica, procedemos à revisão da necrópole da Quinta do Anjo. É possível surpreender aí o processo de mudança que conduziu à emergência das formações sociais complexas. Construído na fase de apogeu das sociedades neolíticas, quando a Revolução dos Produtos Secundários da Criação de Gado (RPS) provocava nítida aceleração no ritmo de crescimento de todos os indicadores de desenvolvimento económico e social (produtividade, volume de produção, crescimento demográfico, sociabilidade), este cemitério manteve-se em utilização durante cerca de um milénio, até ao colapso das formações sociais de tipo igualitário. O entendimento da morte ou a ideia de eternidade concebidos por numerosas gerações, aglutinadas e por vezes confundidas no registo arqueológico, puderam exprimir-se naquele micro-espaço. Subitamente, a necrópole foi abandonada, como um relógio quebrado que se alheia da marcha do tempo. Para tentar compreender e explicar o processo de mudança subjacente à vida desta necrópole pré-histórica, tornou-se imperioso visitar os lugares dos vivos, prioritariamente os povoados da Pré-Arrábida. Todavia, não nos inibimos de aumentar o raio das deambulações, quer geográficas quer temporais, sempre que tal nos pareceu útil ao propósito de leituras de tempo longo, direccionadas para a apreensão dos aspectos estruturais da evolução cultural. Isolámos, de entre a multitude de factores explicativos dos processos de mudança, três conjuntos, muito embora fortemente inter-relacionados, com peso desigual, por ordem decrescente de potência explicativa: – Intensificação da produção, associada a inovações tecnológicas e económicas, com dois picos no período em análise, um no Neolítico final (RPS), responsável pelo desencadear do processo de calcolitização, e outro no Calcolítico pleno, contemporâneo do desenvolvimento da metalurgia do cobre, inovação tecnológica que viria a contribuir para o colapso do respectivo modo de produção. – Interacção. Esta, embora desenvolvida em moldes de reciprocidade e de igualdade em todo o período analisado, apresenta-se na primeira parte do nosso relato dominada por relações intergrupais hostis (guerra, fortificações), enquanto no final do Calcolítico, pelo contrário, se manifesta de forma marcadamente positiva através de redes de trocas supralocais que terão estimulado a produção e criado um ambiente social propício à emulação e competição entre elites, no quadro da emergência de sociedades hierarquizadas e da crescente autonomização da esfera do poder político. – Economias do simbólico. A substituição das sociedades igualitárias por sociedades hierarquizadas, no caminho para a estratificação social que ocorrerá no final da Idade do Bronze, fará apelo a um número crescente de produções simbólicas. Estas desempenharam um papel activo enquanto meio de competição por estatuto e poder no quadro intragrupal e no contexto da crescente complexidade da estrutura social. Decididamente, recusamos o modelo difusionista da mudança cultural, assente em analogias formais estabelecidas entre elementos da cultura material, quase sempre descontextualizados, modelo concebido à margem dos processos de transformação internos às sociedades humanas. Esta perspectiva tem tido entre nós uma longa vigência, apesar da sua fraca capacidade operativa e do seu ineficiente desempenho nas provas de confronto com o objecto arqueológico. O texto é ilustrado por abundante documentação gráfica e pelo registo fotográfico do espólio, realizado para o efeito por Eduardo Gameiro. A estrutura do trabalho foi construída em torno de três grupos de questões: – O quê? Esta primeira parte é assumidamente arqueográfica e nela se apresenta a informação disponível sobre a necrópole, seguindo de perto o inventário realizado por Vera Leisner e colaboradores (capítulos 1 e 2). – Quando e onde? O tempo e espaço da necrópole são analisados em diferentes escalas (capítulo 3). – Como? Mais especulativos, os últimos capítulos defrontamse com a problemática da explicação (capítulos 4, 5 e 6). Ainda na primeira parte do trabalho, no capítulo 1, procedemos a uma breve revisão da história da investigação dos hipogeus da Quinta do Anjo, iniciada no último quartel do século XIX. Uma referência muito especial é devida aos autores cujas obras nos proporcionaram demorado convívio: António Inácio Marques da Costa, o primeiro grande arqueólogo que prospectou, escavou e publicou numerosos sítios da Península de Setúbal, entre os quais a necrópole da Quinta do Anjo; à equipa constituída por Vera Leisner, Georges Zbyszewski e Octávio da Veiga Ferreira que realizou o estudo monográfico da necrópole com o rigor que a comunidade científica, unanimemente, lhe reconhece. Sem este trabalho basilar não se poderia ter escrito o presente texto. Finalmente, uma nota à margem para uma preocupação decididamente não marginal, que nos assaltou muitas vezes no decurso da preparação desta publicação: debruçados sobre a reconstituição de formas de encenação da morte e de “ressurreição” que nos precederam em vários milhares de anos, não podemos deixar de pensar no estigma que recai sobre a velhice no mundo contemporâneo. Aos velhos exilados na redoma da terceira idade, uma periferia sombria da sociedade actual, é, com efeito, recusada a contribuição da sua enorme experiência, das suas capacidades de negociação familiar e social, ao invés do que terá sucedido na Pré-história recente, em particular a partir da emergência do Megalitismo. As sociedades de então, de carácter segmentário, estruturadas em torno dos antepassados, depositariam, segundo o modelo que defendemos, uma boa parte das funções de liderança nas mãos dos anciãos1 . Como diria o poeta, “Os anciãos morriam em plena juventude e os avós eram apenas meninos disfarçados” (Sepúlveda, 2000, As rosas de Atacama, p. 34). As fracturas que atravessam as sociedades de hoje, em
ID: 636562975

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Maria

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Esteve online dia 30 de abril de 2024

Publicado 13 de abril de 2024

Os Hipogeus Pré-Históricos da quinta do Anjo e as Economias

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