Apenas com a ajuda da memória, o narrador deste romance assume a tarefa de explicar a si mesmo acontecimentos de sua infância que não conseguia compreender na época. Deste modo, tudo o que lhe marcou mas não percebeu porque parecia ditado pelas mais estritas regras provisórias, agora mostra-se nas suas diferentes dimensões, incluindo aquelas que ele pode apenas imaginar. Premonições, dívidas inesperadas, erros, remorsos, motivos de alegria e desejos de reconciliação e vingança vêm à tona e encontram acomodação, sem se contradizer, naquele território onde a memória do que fomos se mistura com a nostalgia do que nunca é. será, onde passados que não nos pertencem ameaçam condicionar o nosso presente e onde os segredos que queríamos desvendar, quando finalmente forem revelados, longe de diluir o mal-estar que nos levou a investigar, contribuem para nos confundir ainda mais. Uma história de silêncios em que o que não é dito é tão importante quanto o que é dito, "Paris" é uma viagem noturna, ora pensativa, ora extravagante e desolada, em busca da linha de sombra em que habitam os medos, mas também é, e pelo mesmo motivo, uma viagem em busca do esquecimento, um relato detalhado e esperançoso em que as certezas perdem gradualmente sua razão de ser e são substituídas, como se fosse um sonho, pelo vazio do tempo. Com uma prosa harmoniosa e precisa, Marcos Giralt Torrente confirma neste romance extraordinário as expectativas que despertou com seu primeiro livro, Entenda-me, e se ratifica como um dos melhores narradores de sua geração.

Livro como novo, nunca lido. O envio em correio editorial tem o acréscimo de 1€.