Chamam-me Cookie.
Mas durante muito tempo… ninguém me chamou coisa nenhuma.

Passei sete anos atrás de grades.
Sete invernos. Sete verões.
Sete aniversários sem um “parabéns” sussurrado ao ouvido.

Cresci no silêncio de um canil.
Sem cama, sem colo, sem brinquedos.
Sem ninguém que dissesse: “És minha.”
Porque eu nunca fui de ninguém.

Diziam que eu era escura demais.
Velha demais.
Medrosa demais.
Demasiado tudo… e, ao mesmo tempo, nada.

Eu via outros irem embora com os olhos cheios de promessas.
E ficava. Sempre eu.
Sentada no mesmo canto.
A fingir que não me importava.
Mas o coração… esse todos os dias se partia um bocadinho mais.

Depois, um dia — sem eu pedir, sem esperar — vieram por mim.
Disseram que eu seria o rosto de um projeto.
Que, mesmo sendo uma cadela no meio de tantos gatos, eu tinha algo que ninguém podia ignorar:
uma vida esquecida… e um olhar que gritava baixinho por uma segunda oportunidade.

Levaram-me para um abrigo.
Não é uma casa. Não é uma família.
Mas é o melhor que conheci.
Aqui, pela primeira vez, alguém me pegou ao colo.
Pela primeira vez, alguém me olhou sem pressa.
Sem pressa de me mudar. Sem pressa de me julgar.

Tenho medo de tudo, sabes?
Do som de uma porta, de passos apressados, do mundo lá fora que nunca conheci.
Mas não sou má. Nunca fui.
Só aprendi a ser pequena… para não incomodar.

Adoro outros cães — foram a única coisa parecida com uma família que tive.
Com gatos, não sei bem como me portar.
Mas o meu coração… o meu coração só quer paz.

Estou esterilizada, vacinada, chipada.
Tenho tudo em ordem — tudo, menos o tempo.
Porque o tempo, esse, já não me sobra.

Se cheguei até aqui… foi porque alguém acreditou.
Mas eu preciso mais.
Preciso de um lar.
De uma pessoa que me diga, devagarinho:
“Agora sim, és minha.”

Não peço muito.
Apenas alguém que saiba que o amor também pode ser tímido.
Que os corações partidos ainda sabem bater.
E que até uma cadela como eu — escura, velha, assustada — pode ser luz na vida de alguém.

Se me estás a ler…
e o teu peito apertou um pouco…
talvez sejas tu.

Não me deixes esperar mais.
Sete anos já é tempo demais para estar sozinha.

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