Particular
Tipo: Europa
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Descrição
S. Pedro da autoria da Júlia Ramalho. Estado impecável.
“Foi com o barro que eu nasci, é com o barro que hei-de morrer14”
A relação de Júlia Ramalho com a avó é tema obrigatório quando se fala com a descendente da consagrada barrista de Barcelos. Nascida e criada junto da velha Rosa, a neta valoriza as suas raízes e a relação que manteve com a matriarca da
família. “A minha avó foi sempre a minha grande companheira. Com ela aprendi tudo. A trabalhar com o barro e a ser, sobretudo,
mulher15.”
Em termos artísticos, a escola da família é a escola da região oleira de Barcelos. “A técnica de trabalhar o barro, o engenho da modelação, os segredos do ofício, os costumes, tudo isso tem passado de pais para filhos, ao longo de muitas gerações.
Dir-se-ia que esta preocupação está na massa do sangue dos barristas16”. Assim sucedeu com Júlia. Todavia, embora reivindique a memória e a herança da avó, a artesã não esconde a ambição e ergue a voz para reclamar a singularidade da sua obra. Aliás, a afirmação dessa independência começou bem cedo. “Não escreva
isto – confidenciou-nos – porque podem chamar-me vaidosa. Mas gosto muito mais das minhas peças do que as que os outros fazem”17, exclamava em 1984.
Mais tarde, volta a insurgir-se contra a sub-valorização do trabalho dos barristas.
Assume-se como uma artista e revolta-se quando não a tratam como tal: “Porque é que nós artesãos, não somos artistas como os que pintam ou que esculpem? Faço o que a minha avó fazia, mas criei as minhas peças que são muito diferentes18.”
Provavelmente, a preocupação de Júlia em relação à colagem à sua avó nem sequer tem razão de ser. A sua obra vale por si, sendo reconhecida por estudiosos e especialistas, e muito requisitada por colecionadores. De igual modo, são inúmeras as instituições públicas e privadas a promoverem exposições das sua peças. Testemunha do percurso artístico de Júlia, Claudia Milhazes, diretora do Museu de Olaria, afirma que o trabalho da barrista barcelense tem “qualidade e criatividade muito fortes”, e
sublinha que na comparação avó/neta, “não podemos esquecer que os contextos e épocas são diferentes. Júlia tem conhecimentos e um nível cultural que a avó não tinha, e isso, de certa forma, acaba por influenciar o trabalho dela19”.
A inspiração para o diversificado trabalho de Júlia vem-lhe da observação da natureza e das coisas do mundo que a rodeiam. A herança está lá toda e a artista não a nega:
“Eu tive a escola da minha avó”. Mas a artesã ganhou vida e ganhou mundo: rodeiasede amigos, sai, gosta de aprender, visita museus, exposições, monumentos. E não esconde que o convívio com outras pessoas, e o que vê e lê acaba por se refletir na
sua obra.
A artista gosta de todas as peças que produz20, mas admite “uma atração especial por apontamentos quotidianos e religiosos”21 e adora fazer signos, pecados capitais, virtudes e medusas.
Em termos técnicos, as peças produzidas por Júlia Ramalho têm quase sempre um acabamento vidrado de cor castanho/mel, que longe de ser exclusivo, é, todavia, muito característico do seu trabalho. Da sua vasta obra, fazem parte peças tão
diversas como diabos, cabras, anjos, vacas com muitos cornos, cristos, pecados ,virtudes, profissões, cenas da vida rural, figuras religiosas, e a sua peça de eleição: a
medusa de mil cabelos. Em todas estas peças, a barrista barcelense alia a mestria da modelação cerâmica à criatividade temática, conjugando “o religioso e o profano”
que nos transporta para “um imaginário quase libertador22.” Vejamos como a artista interioriza o seu processo criativo.
Às vezes, tenho um bocado de barro na frente, olho para ele e a
inspiração nasce naquela hora. Mas normalmente é quando
estou sozinha, à noite, na cama, e quando acordo penso: vou
fazer aquela peça assim...
Uma vez tive um convite para participar numa exposição de
presépios no Casino Estoril, através da Câmara, só que não me
disseram nada. E a faltar poucos dias, telefonaram lá de Lisboa,
a perguntar se eu sempre ia participar, dizendo: é uma exposição
de presépios, vai estar o Zé Franco, a Ernestina Batalha e aí eu
fiquei assustada. E pensei assim: ou mando uma coisa diferente,
uma coisa boa, ou não vale a pena participar, porque com o Zé
Franco ninguém queria competir. Então, um dia estava na cama
e pensei: o que é que eu vou fazer? Eu fiz dois presépios
normais. Um presépio de figurinhas separadas mas tinha reis e
tudo. E fiz outro com um boi e uma mula a puxar a um carro de
bois com jugo, e o presépio em cima do carro. Durante a
exposição, o Comércio do Porto dedicou uma página inteira ao
meu presépio. Fiquei toda contente, eu naquela altura nem
comprava o jornal, foi um rapaz aqui de uma fábrica, que
comprava o jornal, que me veio dizer
“Foi com o barro que eu nasci, é com o barro que hei-de morrer14”
A relação de Júlia Ramalho com a avó é tema obrigatório quando se fala com a descendente da consagrada barrista de Barcelos. Nascida e criada junto da velha Rosa, a neta valoriza as suas raízes e a relação que manteve com a matriarca da
família. “A minha avó foi sempre a minha grande companheira. Com ela aprendi tudo. A trabalhar com o barro e a ser, sobretudo,
mulher15.”
Em termos artísticos, a escola da família é a escola da região oleira de Barcelos. “A técnica de trabalhar o barro, o engenho da modelação, os segredos do ofício, os costumes, tudo isso tem passado de pais para filhos, ao longo de muitas gerações.
Dir-se-ia que esta preocupação está na massa do sangue dos barristas16”. Assim sucedeu com Júlia. Todavia, embora reivindique a memória e a herança da avó, a artesã não esconde a ambição e ergue a voz para reclamar a singularidade da sua obra. Aliás, a afirmação dessa independência começou bem cedo. “Não escreva
isto – confidenciou-nos – porque podem chamar-me vaidosa. Mas gosto muito mais das minhas peças do que as que os outros fazem”17, exclamava em 1984.
Mais tarde, volta a insurgir-se contra a sub-valorização do trabalho dos barristas.
Assume-se como uma artista e revolta-se quando não a tratam como tal: “Porque é que nós artesãos, não somos artistas como os que pintam ou que esculpem? Faço o que a minha avó fazia, mas criei as minhas peças que são muito diferentes18.”
Provavelmente, a preocupação de Júlia em relação à colagem à sua avó nem sequer tem razão de ser. A sua obra vale por si, sendo reconhecida por estudiosos e especialistas, e muito requisitada por colecionadores. De igual modo, são inúmeras as instituições públicas e privadas a promoverem exposições das sua peças. Testemunha do percurso artístico de Júlia, Claudia Milhazes, diretora do Museu de Olaria, afirma que o trabalho da barrista barcelense tem “qualidade e criatividade muito fortes”, e
sublinha que na comparação avó/neta, “não podemos esquecer que os contextos e épocas são diferentes. Júlia tem conhecimentos e um nível cultural que a avó não tinha, e isso, de certa forma, acaba por influenciar o trabalho dela19”.
A inspiração para o diversificado trabalho de Júlia vem-lhe da observação da natureza e das coisas do mundo que a rodeiam. A herança está lá toda e a artista não a nega:
“Eu tive a escola da minha avó”. Mas a artesã ganhou vida e ganhou mundo: rodeiasede amigos, sai, gosta de aprender, visita museus, exposições, monumentos. E não esconde que o convívio com outras pessoas, e o que vê e lê acaba por se refletir na
sua obra.
A artista gosta de todas as peças que produz20, mas admite “uma atração especial por apontamentos quotidianos e religiosos”21 e adora fazer signos, pecados capitais, virtudes e medusas.
Em termos técnicos, as peças produzidas por Júlia Ramalho têm quase sempre um acabamento vidrado de cor castanho/mel, que longe de ser exclusivo, é, todavia, muito característico do seu trabalho. Da sua vasta obra, fazem parte peças tão
diversas como diabos, cabras, anjos, vacas com muitos cornos, cristos, pecados ,virtudes, profissões, cenas da vida rural, figuras religiosas, e a sua peça de eleição: a
medusa de mil cabelos. Em todas estas peças, a barrista barcelense alia a mestria da modelação cerâmica à criatividade temática, conjugando “o religioso e o profano”
que nos transporta para “um imaginário quase libertador22.” Vejamos como a artista interioriza o seu processo criativo.
Às vezes, tenho um bocado de barro na frente, olho para ele e a
inspiração nasce naquela hora. Mas normalmente é quando
estou sozinha, à noite, na cama, e quando acordo penso: vou
fazer aquela peça assim...
Uma vez tive um convite para participar numa exposição de
presépios no Casino Estoril, através da Câmara, só que não me
disseram nada. E a faltar poucos dias, telefonaram lá de Lisboa,
a perguntar se eu sempre ia participar, dizendo: é uma exposição
de presépios, vai estar o Zé Franco, a Ernestina Batalha e aí eu
fiquei assustada. E pensei assim: ou mando uma coisa diferente,
uma coisa boa, ou não vale a pena participar, porque com o Zé
Franco ninguém queria competir. Então, um dia estava na cama
e pensei: o que é que eu vou fazer? Eu fiz dois presépios
normais. Um presépio de figurinhas separadas mas tinha reis e
tudo. E fiz outro com um boi e uma mula a puxar a um carro de
bois com jugo, e o presépio em cima do carro. Durante a
exposição, o Comércio do Porto dedicou uma página inteira ao
meu presépio. Fiquei toda contente, eu naquela altura nem
comprava o jornal, foi um rapaz aqui de uma fábrica, que
comprava o jornal, que me veio dizer
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Publicado 06 de julho de 2025
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